Bolsonaro pede desculpas a ministros do STF e nega plano de golpe

O ex-presidente Jair Bolsonaro negou que tenha planejado um golpe de estado, após ser derrotado nas eleições de 2022. Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, na tarde desta terça-feira, na ação em que é réu pela trama golpista, Bolsonaro alegou que ele e os ministros do governo dele nunca pensaram em fazer nada fora da Constituição.
"A gente só tem uma coisa a afirmar à Vossa Excelência: da minha parte, por parte de comandante militar, nunca se falou em golpe. Golpe é uma coisa abominável. O golpe até seria fácil começar; o after day que é simplesmente imprevisível e danoso para todo mundo. O Brasil não poderia ar por uma experiência dessa e não foi sequer cogitado essa hipótese de golpe no meu governo."
Segundo o ex-presidente, as medidas que discutiu com integrantes do governo seriam uma resposta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que não teria aceitado uma ação do seu partido, o PL, contra os resultados das eleições e ainda aplicado uma multa de R$ 22 milhões. Sobre a chamada minuta do golpe, Bolsonaro negou ter participado da produção do documento.
Nessa segunda-feira, também em depoimento ao STF, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente, o tenente-coronel Mauro Cid, que fez uma colaboração premiada, afirmou que Bolsonaro teria editado a minuta do golpe e apresentado aos comandantes militares
"Não procede o enxugamento. Tem os 'considerandos' que foram ados na tela, de forma bastante rápida. Não havia da nossa parte uma gana de procurar, mesmo sendo... Vamos supor que viéssemos a encontrar, remotamente algo na Constituição, não existia essa vontade. O sentimento de todo mundo era de que não tínhamos nada o que fazer. Se tivesse que ser feito alguma coisa seria lá atrás, via Congresso Nacional. Não foi feito, então tínhamos que entubar o resultado das eleições".
Jair Bolsonaro respondeu ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, se estava prevista a prisão de autoridades na minuta do golpe: "Falar contra autoridades, sugerir prisão, isso aí, na nossa reunião, não estava previsto. Era conversa informal [para ver] se existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para nós atingirmos aqui um objetivo que não tínhamos atingido no TSE."
Bolsonaro ainda culpou o próprio advogado pelo fato de a Polícia Federal ter encontrado uma cópia de um decreto golpista no gabinete dele na sede do PL. Sobre os frequentes questionamentos ao sistema eleitoral brasileiro, que nunca foram comprovados, Bolsonaro atribuiu à sua retórica de defesa do voto impresso. Ele voltou a dizer que o sistema eleitoral brasileiro precisa ser aperfeiçoado. O ex-presidente pediu desculpas pelas acusações aos ministros.
"Não tem disso, não, senhor ministro. Era uma reunião para não ser gravada, um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fosse outros três ocupando, teria falado a mesma coisa, então, me desculpem. Não tinha essa intenção de acusar qualquer desvio de conduta dos senhores três. Não vou sugerir nada a quem quer que seja aqui, mas acredito que, dado o que vem acontecendo de reclamações por ocasião das eleições, para o bem da democracia, seria bom que algo fosse aperfeiçoado para que não pudesse haver qualquer dúvida sobre o sistema eletrônico. Se não houvesse essa dúvida, com toda a certeza, nós não estaríamos aqui hoje."
Jair Bolsonaro ainda negou ter interferido no relatório do Exército sobre a segurança das urnas, fato que havia sido confirmado por Mauro Cid, mas o ex-presidente disse que o documento atendeu às suas demandas. O ex-presidente também disse que não teve conhecimento da ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para impedir o trânsito de eleitores, principalmente no Nordeste. Ele ainda confirmou que encontrou a deputada Carla Zambelli e o hacker Walter Delgati para discutir a segurança das urnas eletrônicas, mas que não sentiu confiança e orientou que ambos tratassem com o Ministério da Defesa.





